terça-feira, 23 de setembro de 2008

O primeiro texto

O primeiro texto a gente nunca esquece.
Da mesma forma que nunca se esquece o primeiro amor, a primeira desilusão e por ai vai.
É claro que esse não é o meu primeiro texto, mas digo que é o primeiro que realmente vale a pena ser mostrado.
O mais irônico nele é que um texto que fala de um amor sincero e verdadeiro, tenha nascido de uma ilusão que não muito depois, se tornaria uma desilusão.
Enfim, quem disse que coisas boas não podem nascer de coisas ruins?
Enfim, espero que gostem dele.



A menina e a estrela

Há muito tempo atrás em uma pequena cidade, vivia uma menina que amava as estrelas.
Para ela as estrelas eram muito mais que corpos celestes vagando a esmo pelo espaço infinito. Tampouco eram simples buraquinhos no véu negro da Dama Noite, através dos quais, a luz do seu sorriso podia tocar nossos olhos.
Para essa menina, as estrelas eram a própria luz de Deus, a brilhar eternamente no céu para nos lembrar que nunca estamos sozinhos. Eram “faróis” a nos guiar eternamente pelas trevas que às vezes cobrem nossas vidas, enfim, para ela as estrelas eram as mais belas formas de expressão da força que criou a vida.
Para essa menina, as estrelas eram sua vida.
Conforme o tempo passava seu amor por elas crescia tanto que um dia ela começou a querer se tornar uma delas.
E na esperança de conseguir, ela começou a ler livros, perguntar a pessoas tidas como sábias, a rezar e implorar para que Deus a ajudasse, mas nada disso lhe deu a resposta que tanto desejava. A resposta que lhe permitiria ocupar seu lugar no céu e voar com suas irmãs pelas infinitas noites que a terra ainda há de ver.
Conforme o tempo passava seu desejo crescia e junto com ele sua tristeza também.
Não sentia mais a velha alegria que tomava seu coração ao olhar de sua janela as estrelas, agora, apenas sentia-se triste por não estar com elas. A luz que brilhava em seus olhos e transbordava em seu sorriso começou a morrer conforme a escuridão que tomava seu coração aumentava. Não havia mais sorriso em seu rosto, apenas lágrimas.
Mas como nada nessa vida acontece por acaso, o desígnio decidiu intervir.
Um rapaz que sempre a admirou e sempre amou a luz que vinha do sorriso daquela menina notou que havia algo errado. A luz dela havia começado a se apagar. Notou que agora, nuvens de tristeza faziam cair chuvas de lágrimas que rolavam por todo seu rosto apagando aquela chama que aquecia o coração dele.
Ele resolveu ajudá-la e um dia disse a ela que sabia de uma forma de transformá-la em uma estrela.
Ele lhe disse que debaixo de uma árvore que ficava no centro da praça da cidade, ela encontraria a resposta que tanto queria.
Ao ouvir isso sua esperança renasceu e certa de que, agora conseguiria o que tanto desejava, partiu em direção a praça.
Ao chegar à praça e avistar a árvore sentiu um aperto em seu coração, uma mistura de ansiedade e medo. E se fosse uma piada? Uma brincadeira cruel do rapaz? Não, seu coração dizia que não era.
Se apegando a isso, caminhou, com toda a fé que cabia em seu coração, em direção a árvore, aonde ao chegar, encontrou um pacote.
Ao abri-lo achou uma carta endereçada a ela que dizia o seguinte:
“Porque desejar o brilho das estrelas quando seus olhos têm um brilho maior do que o de todas elas juntas?
Porque desejar iluminar um pedaço do céu que outra estrela já ilumina quando lhe foi dada à missão de sozinha, iluminar o coração daqueles que tem a sorte de tê-la em suas vidas?
Porque querer ser apenas mais uma estrela no meio de tantas outras que habitam o firmamento quando Deus lhe permitiu ser a única estrela a viver na terra entre os que precisam de sua luz para serem felizes?
Sei que lhe disse que sabia uma forma de te transformar em uma estrela, mas não posso fazer isso. Não apenas porque eu não sei como fazer isso, mas sim porque não preciso fazer isso.
E não preciso fazer isso porque você já é uma estrela.
Você é e sempre foi o meu farol, cuja luz me guia pelas trevas que ás vezes cobrem minha vida e meu coração.
Você é e sempre será a mais bela forma que a vida criou para expressar toda a sua beleza. Uma beleza que não pode ser duplicada e nem mesmo alcançada por estrela nenhuma.
Você é vida, minha vida.
Você sempre foi uma estrela, minha estrela.
Nunca se esqueça disso.”
Ao terminar a carta uma lágrima correu de seus olhos e essa única lágrima, que não nasceu da tristeza e sim da alegria que agora começava a voltar ao seu coração, foi o combustível que faltava para seu sorriso voltar a brilhar. E ele brilhou de uma forma que há muito não brilhava.
E a partir desse dia ela nunca mais desejou ser como suas irmãs do céu que tanto admirava, pois agora tinha certeza que já era uma delas.
E de um canto escuro da praça, um rapaz sorria feliz, pois tinha conseguido fazer sua estrela voltar a brilhar.

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